Principal mercado é o de jatos executivos, com três empresas e outras 11 em busca de certificação
Por Cristian Favaro, do Valor Econômico
Embora o brasileiro ainda resista a compartilhar bens de luxo, o segmento tem sido sustentado no país, sobretudo pelas novas gerações de consumidores endinheirados, que preferem pagar pelo uso de um bem a comprá-lo. O principal mercado é o de jatos executivos, que hoje engloba três empresas e conta com outras 11 em busca de certificação. Mas há apostas também em compartilhamento de casas, carros e até uma ilha, que foi ofertada em quatro cotas de R$ 19,7 milhões cada.
Inspirada na operação da americana NetJets, a Avantto opera com o compartilhamento de jatos desde 2011 e hoje é a maior empresa em número de aeronaves no Brasil — 22 no modelo compartilhado e 45 no total. Segundo o CEO Rogério Andrade, o negócio ganhou forte impulso com as novas gerações.
A Avantto tem reportado crescimento de dois dígitos nos últimos anos e espera fechar 2023 com faturamento de R$ 150 milhões. Para ter uma cota de um Phenom 300 (que pode levar até oito passageiros) com 120 horas de voo por ano é preciso investir US$ 1,7 milhão. Mensalmente, é necessário arcar com custos fixos da ordem de R$ 52 mil por cota e o desembolso de R$ 12 mil por hora voada no jato.
“A cabeça das pessoas mudou. O comprador típico do compartilhamento há 20 anos não é o mesmo de hoje”, disse Andrade. O executivo destacou ainda que a suspensão do funcionamento de muitas linhas aéreas comerciais durante a pandemia contribuiu para expandir o segmento.
O segmento de compartilhamento de aeronaves ganhou um respaldo maior da Anac em 2021 com o estabelecimento de normas no regulamento que trata do transporte aéreo privado. O texto retirou algumas inseguranças jurídicas, como a responsabilidade por eventuais acidentes — que fica sobre a administradora do avião.
Pela nova regulamentação, cada avião pode ser dividido no máximo em 16 cotas e os helicópteros, em 32. O objetivo é evitar que a cota fique tão barata a ponto de representar concorrência a outros modelos de negócios. Há outras formas de se compartilhar uma aeronave e esses arranjos continuam valendo.
Atualmente, são três empresas autorizadas a realizar a administração de um programa de propriedade compartilhada: Avantto, Amaro Aviation e Prime You. Segundo a Anac, há outras 11 empresas com processos em andamento, o que reforça o potencial do segmento, que em pouco tempo fez diversos grupos se movimentarem.
A Anac destacou que o processo acaba sendo mais longo diante da necessidade de aprovação de manuais e treinamento das tripulações. O prazo varia ainda de acordo com quantidade de aeronaves — a Avantto demorou 550 dias para ser aprovada (com seis modelos de aeronave no total), enquanto a PrimeYou levou 117 dias (com dois modelos).
Executivos dizem que o mercado tem muito a crescer. Isso porque o Brasil tem hoje 9,8 mil aeronaves no segmento de aviação geral, segundo maior mercado do mundo atrás dos Estados Unidos conforme números da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). Mas a líder global de compartilhamento, a NetJets, tem sozinha mais de 800 aeronaves.
Publicado originalmente em https://cutt.ly/swmAF623